Por Nydia Mara Pinheiro Lorenzini,
Florianópolis, 2004.
Sección: Tesis, tesis de maestría.
RESUMO
Este estudo objetiva investigar o conceito de ser vivo elaborado pelos alunos surdos de classes comuns do ensino regular, bem como verificar os efeitos da inclusão para a construção de conceitos e integração social. O conceito de ser vivo foi selecionado por ser utilizado desde as primeiras séries do Ensino Fundamental, tanto na escola quanto fora dela. Pensando na realidade dos alunos surdos, sabemos que existe uma grande dificuldade ao acesso de uma língua que lhes seja oferecida naturalmente (QUADROS, 1997). Isso faz com que desenvolvam um tipo de pensamento mais concreto, já que de acordo com VYGOSTSKY (1993) é através do diálogo e da aquisição do sistema conceitual que conseguimos internalizar conceitos abstratos. Este é o grande entrave na aquisição da linguagem das crianças surdas; é bastante difícil conversar com estas crianças sobre assuntos não relacionados diretamente ao ambiente em que a criança e o interlocutor se encontram. É possível que estas crianças tenham certa dificuldade em compreender conceitos científicos, devido à ausência de alguns conceitos previamente adquiridos e da sua dificuldade de abstração, já que a abstração e a generalização são funções mentais extremamente dependentes da linguagem (GOLDFELD, 1997). Isto acontece com uma grande parcela de alunos surdos que não tem oportunidade de acesso a uma educação em que a diferença seja reconhecida,onde a educação é baseada no oral-auditivo levando essa criança ao fracasso completamente previsível. Não é ela que é incapaz, o sistema a torna incapaz. Os sujeitos desta pesquisa foram 8 alunos surdos cursando a 5a e 6 a séries do Ensino Fundamental de classes comuns em escolas da rede pública estadual de Florianópolis/SC. O trabalho de campo abrangeu exame documental, relativo à história de vida e à trajetória escolar desse grupo, e um período de observação em sala de aula. A investigação da compreensão do conceito selecionado foi realizada através de um instrumento especialmente elaborado para esse fim. Investigamos também a aquisição desse conceito pelas crianças ouvintes das mesmas classes. Foram ainda entrevistados os professores, a coordenadora pedagógica e o intérprete de Língua de Sinais. A análise dos resultados obtidos não apresentou diferenças significativas. Acredito que esta constatação foi influenciada, principalmente, por três fatores: o conceito científico investigado apresenta uma complexidade muito grande, tanto no meio escolar quanto fora dele; a maioria dos alunos surdos investigados nesta pesquisa apresenta um bom domínio da Língua Brasileira de Sinais – LIBRAS, facilitando a aquisição da linguagem e conseqüentemente o desenvolvimento de seu pensamento; além disso, esses alunos apresentam uma vivência escolar bastante longa, tendo cursado várias vezes a mesma série e conseqüentemente apropriando-se de alguns conceitos científicos pelo contato repetitivo.
Palavras-chave: conceito de ser vivo, aprendizagem de surdos, inclusão.
INTRODUÇÃO
De acordo com QUADROS (1997), no Brasil as crianças surdas geralmente não têm acesso a uma educação especializada, e é comum encontrarmos surdos com muitos anos de vida escolar nas séries iniciais sem uma produção escrita compatível com a série. Além disso, há defasagens nas demais áreas previstas para as séries considerando o currículo escolar (em relação ao conteúdo escolar). A Federação Nacional de Educação e Integração de Surdos – FENEIS (1995) cita uma publicação e dados da própria FENEIS a respeito do desempenho escolar:
“Através de pesquisa realizada por profissionais da PUC do Paraná em convênio com o CENESP (Centro Nacional de Educação Especial) publicada em 1986 em Curitiba, constatou-se que o surdo apresenta muitas dificuldades em relação aos pré-requisitos quanto à escolaridade, e 74% não chega a concluir o 1º grau. Segundo a FENEIS, o Brasil tem aproximadamente 5% da população surda total estudando em universidades e a maioria é incapaz de lidar com o português escrito” (FENEIS, 1995, p.07).
Segundo VYGOTSKY (1993), “a linguagem possui além da função comunicativa, a função de constituir o pensamento. O processo pelo qual a criança adquire a linguagem segue o sentido do exterior para o interior, do meio social para o individual”. Trazendo estas afirmações para a realidade do surdo, percebe-se que os problemas comunicativos e cognitivos da criança surda muitas vezes não têm origem na criança e sim no meio social em que ela está inserida, que freqüentemente não é adequado em termos de linguagem e comunicação.
A aprendizagem que se inicia através das relações interpessoais necessita, na maioria das vezes, da linguagem. O atraso da linguagem causa atraso na aprendizagem e conseqüentemente no desenvolvimento cognitivo, já que é a aprendizagem que o impulsiona. A aprendizagem das crianças surdas em geral não é facilitada; muitas vezes segue caminhos diferentes daqueles das crianças ouvintes, que passam por um processo de aprendizagem formal, sem dificuldades lingüísticas. Assim sendo, acredito que apenas o acompanhamento diferenciado da criança surda pode colocá-la em situação de igualdade na comunidade dos ouvintes.
No decorrer da história, assim como atualmente, os educadores criaram diferentes metodologias para ensinar os surdos. Alguns se utilizavam apenas da língua oral; outros consideravam mais adequada a língua de sinais, que é uma língua espaço-visual criada através de várias gerações pelas comunidades de surdos. Outros ainda criaram códigos visuais, que não se configuram como uma língua, para facilitar a comunicação com seus alunos surdos.
Leer tesis. Descargar PDF (1 MB)
Dissertação apresentada à Banca Examinadora do Programa de Pós-graduação em Educação Científica e Tecnológica da Universidade Federal de Santa Catarina como exigência parcial para obtenção do título de mestre em Educação.
Sé el primero en comentar