Movimentos surdos e os discursos sobre surdez, educação e trabalho: a constituição do surdo trabalhador

Por Madalena Klein (UFRGS),

Porto Alegre, 2005.

Sección: Artículos, cultura sorda.

 

O presente artigo procura entender a constituição de sujeitos surdos trabalhadores a partir da investigação dos discursos sobre a surdez, a educação e o trabalho presentes nos movimentos surdos, aqui entendidos como movimentos sociais articulados a partir de aspirações, reivindicações, lutas das pessoas surdas no sentido do reconhecimento de sua língua, de sua cultura.

A comunidade surda vê nos movimentos surdos uma possibilidade de caminhada política de resistência às práticas ouvintistas1 [1]até então hegemônicas nos diferentes espaços educacionais, sociais e culturais, como também, um espaço de luta pelo reconhecimento da Língua de Sinais e das identidades surdas. Nas palavras de uma pesquisadora surda, encontramos explicitada sua visão do movimento surdo:

Para o movimento surdo, contam as instâncias que afirmam a busca do direito do indivíduo surdo ser diferente nas questões sociais, políticas e econômicas que envolvem o mundo do trabalho, da saúde, da educação, do bem­estar social (Perlin, 1998: 71).

Esses movimentos se dão a partir dos espaços articulados pelos surdos, como as associações, as cooperativas, os clubes, onde “jovens e adultos surdos estabelecem o intercâmbio cultural e lingüístico e fazem o uso oficial da Língua de Sinais” (FENEIS, 1995a:10)[2]. Um dos principais fatores de reunião das pessoas surdas é a Língua de Sinais, através da qual eles encontram oportunidades de compartilhar suas experiências e seus sonhos, e também um espaço de reafirmação da luta pelo direito ao uso dessa língua. Mas as questões discutidas pelos movimentos surdos se ampliam e diversificam, segundo suas realidades locais e nacionais. Algumas lutas são compartilhadas pelos grupos de surdos em diferentes regiões do mundo, sendo que sua articulação ao nível mundial está sob a coordenação da Federação Mundial de Surdos (Word Federation of the Deaf—WFD), com sede na Finlândia. A sua criação, em 1951, significou uma importante conquista de espaço político para as discussões e articulações das lutas das comunidades surdas (Souza, 1998).

Fragmentos da História dos Movimentos Surdos

Entre a maioria dos surdos europeus e norte­americanos, principalmente, há uma tradição de festejar o surgimento ou a origem da comunidade surda a partir do encontro do Abade L’Epèe, por volta de 1760, com duas jovens surdas nas ruas de Paris. Deste encontro resultou seu interesse pela Língua de Sinais e a fundação da primeira escola pública para surdos[3]. Wrigley (1996) faz referência à utilização da história do Abade como sendo a origem da comunidade surda. Esse autor procura entender esse processamento da história em mito como um aparato tradicional de mobilização popular. Assim, na França, por exemplo, os festejos do aniversário de L’Epèe foram, por muito tempo, uma oportunidade de surdos de diferentes regiões compartilharem momentos de reunião. Mottez (1992) sugere o nascimento do movimento surdo vinculado diretamente ao encontro de pessoas surdas em banquetes, sendo que o primeiro teria sido organizado para comemorar o aniversário do Abade:

Quero convidá­lo a registrar o ano de 1834 como uma das grandes datas da história dos surdos. Com o primeiro banquete comemorando seu nascimento (1834) começa o culto ao Abade L’Epée. Para mim é a data de nascimento da nação surda. É o ano em que pela primeira vez os surdos­mudos se outorgam uma espécie de governo. Isto nunca havia acontecido (Mottez, 1992: 7).

Padden e Humphries (1988: 26­29) tecem comentários sobre o “Conto de L’Epèe” de forma muito interessante. Para os pesquisadores surdos, esse conto veio a simbolizar, na sua reprodução entre os surdos sob forma de anedotas, performances, de geração em geração, a transição de uma situação de isolamento na qual viviam as pessoas surdas, para uma vida em comunidade, compartilhando uma língua e ricas experiências de vida. Lane (1997) também se refere a esse conto, defendendo que o surgimento da primeira escola pública em Paris, fundada por L’Epèe, mudou de forma decisiva a vida das pessoas surdas da época.

Mas não foram apenas os banquetes os motivadores do surgimento do movimento surdo, principalmente por refletirem a reunião de um determinado segmento dessa comunidade, como bem caracteriza Mottez (1992: 10), quando explicita que “os surdos­mudos que nunca estiveram na escola não deveriam jamais colocar seus pés. Naquele tempo estes formavam três quartos da população surda”. Ou seja, participavam dessas reuniões apenas uma minoria de surdo pertencentes de uma elite.

Widell (1992) escreve sobre as fases históricas da cultura surda, mais especificamente, o surgimento de associações de surdos na Dinamarca, no período entre 1866­1893. No texto da socióloga, encontramos várias referências aos objetivos e realizações dessas associações, sendo que, entre ações de lazer, recreação e assistência, também a preocupação com o trabalho estava privilegiada. Segundo a autora, a primeira associação de seu país foi formada a partir do encontro de artesãos, motivados por iniciativas que vinham, de igual modo, ocorrendo em outros países.

A maioria da comunidade surda consistia de trabalhadores especializados, e era característico do período que o objetivo da associação surda fosse semelhante ao objetivo das associações de trabalhadores. (…) Além disso, pretendiam encontrar emprego para trabalhadores especializados que estivessem desempregados (Widell, 1992: 21).

Apesar de fazer referência aos trabalhadores especializados, os registros encontrados por Widell demonstram uma situação dos surdos da época bastante difícil: grande parte desses constituíam­se de mão­de­obra mal escolarizada, facilitando a exploração por parte dos donos das indústrias. As associações, então, tinham um papel fundamental no treinamento desses surdos, como também nas negociações no sentido de conquistas legais de garantia de educação e trabalho. A autora segue seu relato, dizendo que nas primeiras décadas desse século

é graças a socialização terciaria na associação dos surdos­mudos que a comunidade surda aprendeu a ascender socialmente no emprego. Era na associação que as soluções para problemas como afrontas, sindicatos, operários, etc. eram discutidos (idem: 36).

Nesse caminho de garantia dos direitos dos surdos, tanto de acesso à sua língua, à educação, à saúde, ao lazer, como também ao trabalho, as associações de surdos dos diferentes continentes congregam­se na sua Federação Mundial de Surdos (WFD). Articulando­se com os organismos ligados às Nações Unidas, os líderes surdos procuram, a partir daí, interferir nas políticas e nas recomendações dadas aos governos dos seus países.

Influência decisiva teve a WFD nas recomendações da UNESCO, em 1984, no reconhecimento formal da Língua de Sinais como língua natural das pessoas surdas, garantindo o acesso de crianças surdas a ela o mais precocemente possível[4].

Antes mesmo dessa resolução, a ONU promoveu, em 1981, o Ano Internacional dos Deficientes, no qual discursos sobre a conquista da cidadania por parte desse segmento da população deveriam motivar procedimentos concretos dos governos. A preocupação com o trabalho, tendo uma relação direta com a possibilidade de independência e de autonomia das pessoas portadoras de deficiência[5], ganhou espaço significativo nas ações resultantes desse ano.

As associações de surdos, juntamente com o movimento de pessoas portadoras de deficiências (cegos, deficientes físicos e mentais) iniciaram campanhas intensas no sentido de propagar os direitos dos cidadãos com deficiência: direitos a atendimentos qualificados, à educação, ao lazer, à profissionalização, ao emprego.

As ações reivindicatórias por leis que garantam o acesso ao trabalho são prioridades dessas associações, e isso ocorre de forma intensiva em diferentes países. No Brasil são conquistas desses movimentos a lei de reserva de mercado (Constituição Federal, art. 37o, inciso VIII) e a Instrução Normativa N.o 5 de 30/08/91 do Ministério do Trabalho e da Previdência, que institui o programa de treinamento profissional junto às empresas. Essa Instrução Normativa refere­se ao trabalho para pessoas portadoras de deficiência dentro de uma perspectiva de atividades com fins terapêuticos, de reabilitação, que ocorre sob a tutela de entidades que tenham o objetivo de assistir o deficiente.

Os movimentos surdos no Brasil: uma trajetória de luta

A história dos movimentos surdos começa a ser contada, pela própria comunidade surda (FENEIS, Relatórios de 1993, 1996, 1997), a partir da chegada ao Brasil do francês Hernest Huet, surdo e ex­diretor do Instituto de Surdos de Paris. As ações de Huet, segundo os relatos encontrados, evidenciavam a importância da Língua de Sinais, sendo que ela foi se expandindo entre a comunidade surda.

Entre as décadas 20/30 de nosso século, um grupo de surdos do Rio de Janeiro funda a Associação Brasileira de Surdos—Mudos, para lutar pelo direito de serem educados na sua língua natural, como também para procurar vencer as dificuldades de integração. Essa primeira associação foi desativada devido a várias dificuldades. Décadas mais tarde, em 1971, um grupo de surdos de São Paulo retoma a Associação Brasileira, agora motivados pelo Monsenhor Vivente de Paula Penido Burnier, mas também não tem uma continuidade.

Nos anos 70, profissionais ouvintes ligados à surdez fundam a Federação Nacional de Educação e Integração do Deficiente Auditivo ­ FENEIDA. Segundo os relatórios pesquisados, os surdos não sabiam da existência dessa organização, o que ocorreu apenas anos mais tarde.

Em 1983, um grupo de surdos organiza uma Comissão de Luta pelos Direitos dos Surdos, desenvolvendo um trabalho importante nessa área. O grupo ganha força e legitimidade ao reivindicar, junto à FENEIDA, espaço para seu trabalho, o que foi negado naquele momento. Ao formar uma chapa, o grupo de surdos é vencedor nas eleições para diretoria da entidade, sendo que o primeiro passo foi a reestruturação do Estatuto da entidade, que passou a ser denominada Federação Nacional de Educação e Integração dos Surdos. Essa mudança foi muito significativa, pois não se referiu apenas a uma troca de nomes, mas a busca de uma nova perspectiva de trabalho e de olhar sobre os surdos. Souza (1998: 91) nos ajuda a entender esse novo olhar:

A apropriação dessa Federação pelos surdos é repleta de significados. Simboliza uma vitória contra os ouvintes que consideravam a eles, surdos, incapazes de opinar e decidir sobre seus próprios assuntos e entre eles, sublinha o papel da linguagem de sinais na educação regular. Desnuda, ainda, uma mudança de perspectiva, ou de representação discursiva, a respeito de si próprios: ao alterarem a denominação “deficientes auditivos”, impressa na sigla FENEIDA, para “Surdos”, em FENEIS, deixam claro que recusavam o atributo estereotipado que normalmente os ouvintes ainda lhes conferem, isto é, o de serem “deficientes”.

A Assembléia Geral de 16 de maio de 1987 marca a data de fundação da FENEIS, quando estiveram presentes representantes de associações de surdos de vários estados brasileiros, dando legitimidade ao grupo que assumia a entidade. Os relatos sobre os anos posteriores são marcados por entusiasmo e determinação no sentido de lutar pelo reconhecimento da Língua Brasileira de Sinais, pelos direitos das crianças, adolescentes e adultos surdos à educação, ao lazer, à cultura, ao trabalho, entre outros.

A FENEIS é uma organização ao nível nacional. Os surdos, em suas cidades, possuem formas mais localizadas de organização como as associações e os clubes. Nesses espaços, eles procuram se encontrar para compartilhar da língua e de experiências as mais variadas. Suas atividades, na grande maioria, voltam­se ao lazer e ao esporte, havendo em algumas associações, mobilizações mais políticas, como a oficialização da Língua de Sinais e a garantia da presença de Intérpretes em situações diversas.

A FENEIS e as diferentes associações de surdos são o foco do presente artigo. A pesquisa se desenvolveu a partir de produções impressas e filmagens de vídeos produzidas por essas organizações representantes dos movimentos surdos. Durante a investigação, procurei me aproximar desses materiais, na busca dos discursos sobre a surdez, a educação e o trabalho. Antes de focalizar esses discursos, pretendo, ainda que de forma breve, apresentar o tema trabalho dentro dos movimentos surdos de forma mais geral, o que passo a fazer a seguir.

O trabalho como tema presente nos movimentos surdos

A relação entre trabalho e os movimentos surdos se dá de diferentes formas e em diferentes níveis. Vimos, anteriormente, com Widell (1992), que, na Dinamarca, o início da associação de surdos ocorreu a partir da motivação de surdos trabalhadores que se reuniam em função de seus interesses laborais. Exemplo semelhante encontramos na Tailândia, onde, em 1982, um Seminário de Treinamento para Surdos artesãos evolui, formando mais tarde, a Associação Nacional dos Surdos na Tailândia ­ ANST (Wrigley, 1996).

Outras associações, mesmo não tendo a motivação inicial ligada às questões do trabalho, no decorrer de sua história vão somando esforços nesse sentido. Encontramos essa preocupação explicitada nos objetivos de entidades representativas dos surdos do Brasil e também de outros países, como exemplificados a seguir:

(…) Para terminar, escolheu­se três importantes conclusões que passam a ser os objetivos principais da FECOSA[6]

  1. Melhorar a situação laboral das pessoas surdas. (grifo meu)
  2. Melhorar a situação e qualidade no campo da educação das pessoas surdas.
  3. Seguir com o desenvolvimento do ensino e investigação da Língua de Sinais Catalana (INFOSORD, abr. 1995: .3).

A mesma atitude é adotada no Brasil:

Fundada em 16 de maio de 1987 com sede no Rio de Janeiro, a FENEIS tem como finalidade:
Promover e assessorar a educação e a cultura dos indivíduos surdos;
Incentivar o uso dos meios de comunicação social apropriados à pessoa surda, especialmente em LIBRAS ­ Língua Brasileira de Sinais;
…………..
Incentivar a criação e o desenvolvimento de novas instituições, nos moldes das modernas técnicas de atendimento, visando o diagnóstico, a prevenção. A estimulação precoce, a educação, a profissionalização (grifo meu) e a integração da pessoa portadora de surdez;
………….
Realizar convênios com entidades públicas e/ou privadas, escolas técnicas, artísticas e artesanais e outras instituições no sentido de pr omover a profissionalização da pessoa surda dentro dos padrões (modernos e atuantes) de eficiência (grifo meu); ………….. (FENEIS, Relatório anual, 1997: 7­8).

O Relatório Anual de 1993 na FENEIS explicita, também, que é objetivo da entidade divulgar e informar pais, educadores, autoridades e o público em geral, sobre, entre outras coisas, “a capacidade profissional da pessoa surda e sua completa integração na sociedade como membro participante ativo, com seus direitos e deveres” (FENEIS, 1993: 7).

Eventos como seminários, simpósios, encontros já foram organizados pelas federações e associações de surdos com o objetivo de discutir a problemática da profissionalização, ingresso e permanência no mercado de trabalho. Departamentos dentro das entidades são estruturados com o objetivo de coordenar as ações na área do trabalho. Exemplo disso encontramos na FENEIS, em que um setor determinado é responsável pela efetivação de convênios que possibilitam às pessoas surdas ingresso em diferentes postos de trabalho.

A FENEIS, através de seu escritório regional do Rio Grande do Sul, promoveu nos anos de 1998 e 2000 as I e II Conferências Estaduais dos Direitos Humanos dos Surdos[7]. Nesses eventos, várias temáticas foram discutidas, sendo que uma delas foi o Trabalho. Interessante registrar as propostas resultantes de uma tarde de discussão entre os participantes do grupo na I Conferência:

Propostas do GT: Trabalho:

FORMAÇÃO E QUALIFICAÇÃO PROFISSIONAL:

  1. Assegurar às crianças, adolescentes e adultos surdos educação em todos os níveis, como pressuposto a uma capacitação profissional. Possibilitar o ensino noturno para que os surdos possam ingressar no mercado de trabalho.
  2. Garantir a participação das entidades representativas e organizadas dos surdos na utilização dos recursos do Fundo de Amparo ao Trabalhador ­ FAT. Tanto na organização quanto na realização de cursos de capacitação profissional. Que tais cursos respeitem as capacidades das pessoas surdas e que sejam de qualidade e real qualificação.

OPORTUNIDADES DE TRABALHO

  1. Lutar pela extinção das listas de profissão para surdos que acabam atribuindo­lhes incapacidade para certos cargos e limitando­lhes oportunidades de emprego.
  2. Promover junto à sociedade em geral e aos empresários em particular, campanhas de esclarecimento sobre a situação dos surdos trabalhadores, no sentido de expandir suas oportunidades de emprego.

CONCURSOS PÚBLICOS

  1. Garantir o cumprimento da Lei de Reserva de Mercado (10%) em todas as instâncias, procurando respeitar proporcionalidade entre as deficiências. Que os Editais dos Concursos Públicos sejam claros na especificação e comprovação por parte do candidato surdo.
  2. Assegurar o direito da presença do Intérprete da Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS) no decorrer dos Concursos Públicos.

NO LOCAL DE TRABALHO

  1. Incentivar, nos locais de trabalho, a organização de Cursos de Sinais, com regularidade.
  2. Que seja respeitada a qualificação do surdo trabalhador nas funções a ele designada (p. ex.: surdo contratado como Programador, que realmente exerça essa função, e não que seja desviado para a função de digitador, e ali permaneça indefinidamente.
  3. Que aos surdos trabalhadores seja garantida a ascensão funcional e o acesso aos cursos internos de qualificação e requalificação profissional com a presença de Intérprete da LIBRAS.

ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO

  1. Estimular e apoiar diferentes formas de organização de grupos de surdos trabalhadores, por exemplo, a formação de cooperativas, micro­empresas e associações de artesãos (FENEIS, 1998).

Neste documento, como em tantas outras produções escritas ou filmadas, podemos encontrar discursos sobre a educação, o trabalho e a surdez dentro dos movimentos surdos.

Os campos discursivos

Pretendo apresentar, de forma breve, alguns dos discursos presentes nos materiais produzidos e veiculados pela comunidade surda e que vem constituindo sujeitos que se experienciam surdos trabalhadores. A aproximação desses materiais se deu procurando evidenciar como que vão se produzindo efeitos de verdade sobre um sujeito surdo trabalhador, no interior de discursos sobre a surdez, a educação e o trabalho.

Ao se analisar as enunciações presentes nestes documentos, é importante permanecermos no plano das coisas ditas, sem entrar numa questão de procurar a verdade ou o erro dos enunciados. Os discursos sobre a surdez se produzem num campo de lutas entre diferentes saberes que procuram se legitimar nas diferentes práticas institucionais. Os sujeitos desses discursos vão se constituindo aí, sem haver a possibilidade de enquadra­los como sendo realmente de um jeito, e não de outro. Os surdos, quando falam de si[8], estão dizendo de dentro de campos discursivos onde diferentes saberes então em jogo: não há como procurar aí uma coerência, uma verdade.

Entendo que os discursos sobre a surdez e os surdos não se apresentam se forma homogênea. Eles estão inscritos entre diversas formações discursivas, constituídas a partir de diferentes práticas ligadas aos campos da medicina, da pedagogia, da lingüística, entre outros. Esses saberes, articulam­se através de jogos de poder que devem ser entendidos em sua historicidade.

Encontramos diferentes enunciações nos documentos analisados, onde em alguns momentos elas se repetem, algumas se excluem, dentro de um jogo discursivo que não está solto: está ligado a um momento histórico onde diferentes formações discursivas estavam em jogo.

O tema comunicação, por exemplo, aparece freqüentemente, conjugando­se com outros temas, entre os quais a educação e o trabalho. Repetidamente encontramos enunciações que dizem que o importante é comunicar, não importa como, ou ainda que a chave da educação está na comunicação; surdo sem comunicação, portanto, não teria condições de educação.

A necessidade da comunicação perpassa os espaços familiares, da escola e chega também ao local de trabalho, onde ela é apresentada como o principal problema na vida das pessoas surdas. Mas mesmo com dificuldades, diferentes momentos dos vídeos e de alguns panfletos analisados mostram um empenho para que os surdos superem essa situação.

A comunicação, em muitos dos materiais pesquisados, é apresentada como estando articulada ao silêncio. O silêncio interfere ou até mesmo impede a comunicação, sendo considerado um problema para as pessoas surdas em seu convívio social. Mas esse problema, segundo alguns dos vídeos e panfletos, pode ser superado, usando­se de qualquer meio.

A relação entre surdez e silêncio foi constante durante a realização da pesquisa. Esse é um tema que vem chamando a atenção da comunidade surda. Padden e Humphries (1988) dedicaram um capítulo de seu livro Deaf in America: Voices from a Culture para discutirem a metáfora do silêncio ligada à surdez. Segundo eles, o entendimento de que as pessoas surdas vivem em um mundo sem som, freqüente entre as pessoas que ouvem, traz um conhecimento errado em relação às pessoas surdas e sua cultura, uma vez que ligam o silêncio a uma incapacidade de comunicação humana, e até mesmo a uma falha para conhecer o mundo. O silêncio é considerado uma condição da pessoa surda a partir da experiência acústica dos ouvintes. Essas enunciações estão presentes nos movimentos surdos, onde o silêncio é comparado a uma barreira que leva à discriminação e à impossibilidade de comunicação.

O silêncio é utilizado com freqüência como uma marca da comunidade surda. Padden e Humphries (1988) seguem sua análise sobre essa metáfora trazendo exemplos de vários títulos de livros sobre a vida de pessoas surdas, como também nomes de periódicos e de organizações de surdos nos quais o silêncio é usado como referência[9].

Essa relação entre surdez e silêncio foi encontrada nos materiais pesquisados, sendo uma constante, principalmente nos vídeos. Interessante assinalar que esse termo se apresenta enquanto positividade, apesar de estar relacionado, na maioria das enunciações, a uma falta: a falta do som. Ao se referir ao silêncio, as enunciações feitas pelos movimentos surdos parecem, por vezes, contraditórias: a falta/deficiência que querem superar ou até mesmo negar, é reafirmada como algo bom e que deve ser aproveitado.

O silêncio, quando relacionado ao mercado de trabalho, é associado com eficiência e competência ­ silêncio correspondendo ao não falar e à possibilidade de uma maior concentração e produtividade. O próprio título de um dos vídeo, O silêncio que comunica e produz, faz essa relação, trazendo o silêncio como uma marca das pessoas surdas.

Encontramos também a predominância de discursos ligados ao campo da medicina, sendo que eles têm influenciado significativamente a vida dos surdos, que passaram a se narrar dentro desses discursos. Padden (1993) critica à predominância de materiais descritivos sobre as pessoas surdas centrados em torno da condição de não ouvir ou ouvir parcialmente. Essas descrições levam a uma interpretação das pessoas surdas como fundamentalmente deficientes e patológicas. Segundo a autora, isso tem influenciado estudantes da comunidade surda, por exemplo, a descreverem­se a partir do enfraquecimento auditivo e a classificar as demais pessoas surdas em função dos graus de enfraquecimento. A autora ainda argumenta que os outros fatos de suas vidas social e cultural são entendidos como conseqüência dessas classificações.

A hegemonia de discursos ligando a surdez à questão médica pode ser registrada desde a segunda metade do século passado e persiste até os dias atuais, fazendo predominar uma abordagem clínico—terapêutica. A escola, por exemplo, atravessada por essa perspectiva, para além do espaço pedagógico, ao longo de sua história foi consolidando uma proposta clínica de atendimento aos alunos surdos.

O modelo clínico/médico da surdez, segundo Wrigley (1996), legitima práticas que vêm, ao longo da história reforçando, como também criando uma realidade para as pessoas surdas dentro de uma concepção de patologia: elas são pessoas defeituosas, e necessitam de ações normalizadoras e reabilitadoras. Assim, segundo esse autor, a surdez diz respeito a um corpo vigiado, onde alteridade e diferença são negados, dentro de um projeto de superação da mesma. Souza (1998:163) também contribui com essa discussão afirmando que “Todos esses procedimentos corretivos acabam por reduzir o sujeito a corpo biológico, o corpo a uma máquina deficiente e, numúltimo ato, o sujeito a deficiente”.

Nos materiais pesquisados encontramos referência a uma possibilidade de superação desse corpo deficiente através da prática profissional: a superação da deficiência e de atitudes a ela vinculadas é apontada como possível e desejável através do desenvolvimento de programas de Informação e Orientação Profissional.

A força dos discursos médicos muitas vezes é reafirmada através da divulgação de dados estatísticos ligando a surdez a uma questão de saúde pública. A citação de dados de pesquisa científica e de pareceres de órgãos internacionais dão legitimidade ao que está sendo dito. Quem é convidado a apresentar os dados das pesquisas científicas, na maioria das vezes, é o profissional da área da saúde. A palavra do especialista passa a ser usada pelo próprio sujeito para se designar. Ao produzir material de divulgação, ao elaborar um artigo, ao participar de uma reportagem em que são descritos quem e como são os surdos, os movimentos surdos estão narrando a si mesmos. E, como podemos ver através do material pesquisado, em muitos destes materiais, o discurso médico da deficiência apresenta­se de forma significativa no movimento surdo.

Além das enunciações ligando a surdez às questões de saúde/reabilitação, aos problemas de comunicação e ao silêncio, encontramos outras regularidades discursivas nos materiais pesquisados. Nos vídeos analisados, por exemplo, são apresentadas várias cenas de surdos em situação de trabalho. São imagens que evidenciam um certo tipo de trabalhador. Essas cenas, inseridas num campo discursivo onde freqüentemente aparecem listas de “funções que os surdos podem desempenhar” (FGTAS/SINE, 1995/1996) acabam por naturalizar determinadas atividades profissionais aos surdos. Resultado disso são os constantes projetos de formação profissional de escolas e associações nas áreas de marcenaria, serigrafia e informática, alegando que os surdos são por natureza atenciosos, pois não se distraem com o barulho e a conversa.

Ao tratar da questão do relacionamento do surdo na sociedade, há uma tentativa de superar uma visão de benevolência em relação aos surdos, procurando trazer a questão do respeito as diferenças. Mas encontramos, também, referência ao espírito de benevolência e idealismo, discursos que por muito tempo atravessaram os projetos de educação de surdos e que ainda hoje encontram seu espaço entre muitos segmentos da sociedade. Ao mesmo tempo, há enunciações que remetem a uma relação onde qualquer coisa vale, desde que haja boa vontade e criatividade.

Em todos os vídeos analisados há, ao final, uma mensagem de positividade, de possibilidade de atingir objetivos de entendimento, de direitos conquistados. São chamadas que evocam o respeito às diferenças, convidam todos ao trabalho, não havendo dúvidas do êxito nos resultados. Há paz, harmonia, entendimento.

Tecendo algumas considerações

Procurei investigar os discursos que ocupavam os espaços dos movimentos surdos, contribuindo na formação de subjetividades trabalhadoras. Esses discursos foram tratados como possibilidades de práticas de falar de si. Através de vídeos, de panfletos, de trechos de reportagens, resoluções de congressos e conferências, entre outros, os surdos narravam­se como sujeitos trabalhadores.

Procurei, durante as diversas leituras do material selecionado para a pesquisa, estar atenta aos discursos que ali emergiam, pronta para acolher cada momento do discurso em sua irrupção de acontecimentos (Foucault, 1997: 28), procurando estabelecer suas compatibilidades e incompatibilidades dentro de diferentes campos discursivos.

Os campos discursivos são constituídos a partir de relações de saber/poder, ou seja, é nesse espaço que se articulam saberes e poderes. A perspectiva foucaultiana nos traz uma concepção de poder enquanto prática social constituída historicamente. Como diz Foucault (1993):

O poder está em toda parte; não porque englobe tudo e sim porque provém de todos os lugares. (…) o poder não é uma instituição e nem uma estrutura, não é uma certa potência de que alguns sejam dotados: é o nome dado a uma situação estratégica complexa numa sociedade determinada (Foucault, 1993: 89).

O poder é produtivo ­ ele atinge a realidade concreta dos indivíduos, produzindo individualidades. O que interessa ao poder é

gerir a vida dos homens, controlá­los em suas ações para que seja possível e viável utilizá­los ao máximo, aproveitando ao máximo suas potencialidades e utilizando um sistema de aperfeiçoamento gradual e contínuo de suas capacidades (Machado, 1990: xvi).

Machado ainda alerta para que a análise sobre o poder não seja geral e englobante. O poder, segundo essa perspectiva, se exerce não de forma macro, mas sim, nas relações e nos corpos dos indivíduos. O poder é exercido em tempos e espaços determinados. Daí vem a proposta de Foucault de uma microfísica do poder (idem: xii).

Para Foucault (1993: 91), “(…) onde há poder há resistência(…)”. Resistência é o poder de não se submeter ao poder do outro. Não é algo que vem de fora, mas se dá dentro da própria rede de poder, não tendo propriamente um lugar: há pontos móveis e transitórios que se distribuem por toda a estrutura social (Machado, 1990). Uma das condições de poder é justamente a existência de uma estratégia de lutas e de contestação (Foucault, 1995). Sem liberdade, não há poder, mas sim, violência.

Junto às resistências, vão se constituindo saberes que colocam em questão os saberes oficiais, hegemônicos. Segundo Varela (1995: 93):

Trata­se de saberes descentrados, polimorfos, muitas vezes fragmentários, assim como de saberes gerais que não deixam de lado as lutas e os conflitos sociais mas que, pelo contrário, permitem recuperar a memória histórica dos enfrentamentos e das resistências, favorecendo assim a oposição à tirania dos discursos globalizantes, com suas hierarquias e privilégios.

Um exemplo significativo de resistência nos movimentos surdos vem se dando no campo da educação. As discussões emergentes sobre a participação de surdos nas decisões educacionais das escolas, os movimentos em direção à ruptura com o que até então se denomina educação especial, procurando redefinir novos espaços, novos sujeitos, são alguns dos exemplos de saberes, fragmentados e descentrados, às vezes, mas que vêm a contrapor os saberes oficiais, instituídos e considerados até então como verdadeiros.

As resistências aos discursos totalizantes das comunidades surdas vêm se apresentando de diferentes formas, tanto nos movimentos de lutas pelo reconhecimento da Língua de Sinais, como na criação das associações de surdos, grande parte delas surgindo num dos períodos de maior ênfase à oralidade e à negação da diferença (Skliar, 1997), envolvendo o final do século passado até aproximadamente as décadas de 60 e 70 de nosso século. Produções artísticas de surdos em áreas como o teatro e a poesia visual trazem diferentes linguagens e formas de relacionamento com as artes, distintos de quaisquer outras manifestações entre outros grupos. São esses alguns exemplos de movimentos entendidos como de resistências, distribuídas no tempo e espaço, e que se constituem de diferentes modos, provocando manifestações decisivas entre grupos e indivíduos (Foucault, 1993).

Encontramos ainda muito de acomodação e dependência às narrativas ligadas a uma história tradicional dos surdos que vem legitimar uma concepção que se queria negar. Os discursos sobre a surdez e o trabalho vêm atravessando os vários espaços da vida das pessoas surdas, colocando determinadas características e atributos como sendo próprios da surdez. Wrigley (1996) nos ajuda a desestabilizar essa identidade surda essencial quando argumenta que a identidade é uma conquista numa troca de economias discursivas, porém onde vamos reconhecendo nossas diferenças como sendo naturais. As diferenças, todavia, são construídas socialmente através de táticas que nos levam a reconhecer as identidades disponíveis e aceitáveis.

Dentro dessa perspectiva, a identidade perde seu atributo natural e passa a ser entendida como uma construção histórica, sendo produzidas diferentes “posições de sujeitos”. O sujeito essencial vem sofrendo um descentramento, onde sua identidade é deslocada ou mesmo fragmentada (Hall, 1997: 8). Nesse espaço, as resistências aos discursos hegemônicos sobre quem é o sujeito surdo se colocam como condições de possibilidades de outras identidades se confrontarem.

A investigação aqui apresentada não pretendeu enquadrar os movimentos surdos e as pessoas surdas dentro de uma escala de valor entre o certo e o errado a partir de um julgamento dos discursos presentes nos materiais ali produzidos. Também não tratou de buscar o discurso verdadeiro sobre a surdez e os surdos. O que considero oportuno é colocar em suspensão as verdades que vêm definindo uma forma de se ver e entender esse sujeito surdo e que continuam engendrando as práticas ligadas à educação de surdos, tanto nos espaços das escolas, como também nos dos movimentos surdos.

 

Referências Bibliográficas

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Notas

[1] Segundo Skliar (1998: 15), esse termo se refere “as representaçãoes dos ouvintes sobre a surdez e sobre os surdos (…)a partir do qual o surdo está obrigado a olhar­se e narrar­se como se fosse ouvinte”. Com esse termo, se faz uma analogia ao colonialismo—colonialista.

[2] Ao falar em movimentos surdos, não estou me referindo ao conjunto generalizado de surdos. Eles representam, neste artigo, grupos determinados, em sua maioria moradores dos centros urbanos,

pertencendo a famílias de situação sócio—econômica estável, que tiveram acesso à escolarização.

[3] A primeira escola pública para surdos foi fundada pelo Abade L’Epèe, na cidade de Paris em 1760, tornando­se, em 1791, o Instituto Nacional de Jovens Surdos de Paris – INJS (Institut, 1994). Esta escola foi referência na educação de surdos nos séculos XVIII e XIX, de onde se formaram vários professores surdos que fundara novas escolas de surdos em diferentes países, como é o caso do Instituto Nacional de Surdos de nosso país, fundado a partir da chegada do professor surdo Hernest Huet, em 1857, na cidade do Rio de Janeiro.

[4] Para maiores detalhes, ver Wrigley (1996: .xii­xiv).

[5] O termo pessoas portadoras de deficiência ­ PPD ­ é utilizado atualmente pela grande maioria de associações de cegos, deficientes físicos, deficientes mentais, como também pelos surdos. Setores ligados à Educação, como secretarias de governos estaduais e municipais, bem como o Ministério da Educação, utilizam o termo pessoas com necessidades educativas especiais a partir da recomendação dada pela Conferência Mundial sobre Necessidades Educativas Especiais: Acesso e Qualidade, promovido pela UNESCO e divulgada através do Documento de Salamanca em 1994. Por ocasião da II Conferência Estadual de Assistência Social do Rio Grande do Sul, realizada entre os dias 16 e 18 de outubro de 1995 em Porto Alegre, RS, houve calorosa discussão em relação ao termo a ser utilizado nas diretrizes da Assistência Social do estado. O representante de uma das Associação de Cegos reivindicou o termo PPD, uma vez que, segundo ele, necessidades educativas especiais todas crianças e adolescentes necessitariam, escapando, assim, do termo as especificidades dos cegos, surdos, paraplégicos. Utilizo, então, nessa proposta, a forma como esse sujeito se nomeou, a ele e aos que ele representava naquele evento

[6] FECOSA: Federação de Surdos da Cataluña ­ Espanha.

[7] Essas duas Conferências ocorreram na cidade de Porto Alegre, reunindo lideranças do movimento surdo do Estado do Rio Grande do Sul, profissionais da área, familiares de surdos. Foram discutidos vários temas ligados aos Direitos Humanos, sendo que as conclusões dessas Conferências foram encaminhadas para as I e II Conferências Estaduais dos Diretos Humanos, realizadas também em Porto Alegre, reunindo representantes de diferentes segmentos da sociedade civil organizada deste estado.

[8] Entendo aqui que a expressão “falam de si” vai para além do ato físico da fala ­ articulação oral. Essa expressão trata do “dizer de si”, em que no caso dos surdos é considerada, sobretudo, a modalidade viso­ gestual, através da Língua de Sinais, como também a língua escrita nacional.

[9] Alguns dos exemplos de livros que Padden e Humphries (1988: 91) nos trazem: They Grow in Silence/Eles Crescem em Silêncio, Dancing Without Music/Dançando sem Música, Growing Old in Silence/Envelhecendo em Silêncio, The Other Side of Silence/O Outro Lado do Silêncio. Entre as organizações surdas, encontram­se os seguintes exemplos: Silent News/Notícias Silenciosas (periódico nacional norte americano), como também associações como Pacific Silent Club, Silent Oriole Club, Chicago Silent Dramatic Club, entre outros. Entre um significativo número de surdos do Brasil é bem conhecido o título da peça teatral Os Filhos do Silêncio (título original: Children of a lesser God) , que consagrou a atriz surda Emanuelle Laborit ao receber o prêmio Moliére de Teatro na França. Essa peça foi, posteriormente adaptada para o cinema, apresentando a atriz surda americana Marlee Matten no papel principal. Outro exemplo de filme que fez alusão a essa metáfora foi Lágrimas no Silêncio no qual era retratada a vida de uma jovem mulher surda e seu difícil relacionamento com sua mãe ouvinte.

 

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